Livros, amor e sangue

oW83uPAdaQVyj1W8LO6WUUAWKYhAntes de começar, o aviso de sempre: ignorem qualquer erro de escrita, por favor 🙂

Eu tenho problemas com Jean-Jacques Annaud por causa de O Nome da Rosa (1986) e A Guerra do Fogo (1981), por isso, quando me indicaram “O Príncipe do Deserto” (2011), eu quase não assisti. E o começo é desinteressante. Mas de alguma forma, a narrativa me prendeu e continuei assistindo esse que se tornou um dos meus filmes favoritos. Foi o filme que reacendeu meu gosto por cinema enquanto arte e me fez mudar de opinião quanto à direção de Annaud, que surpreendeu nesse trabalho épico que certamente foi difícil de coordenar e teve um acabamento muito bom. Sem contar que as gravações aconteceram na Tunísia e no Qatar em meio à Revolução de Jasmim!

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O filme foi baseado no livro “Ao sul do coração” (Hans Ruesch) e é ambientado na Península Arábica na década de 1930, quando houve a descoberta de petróleo naquela região, sendo esse fato o estopim do conflito que se desenvolve. O sultão Ammar (representado por Mark Strong numa atuação belíssima) faz um acordo com o emir Nesib (Antonio Banderas), entregando seus filhos, o príncipe Saleeh (Akin Gazi) e o pequeno Auda (Tahar Rahim), para serem criados por ele, assegurando assim a paz e garantindo que a fictícia região conhecida como Cinturão Amarelo permanecesse inviolável.

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Anos depois, americanos descobrem petróleo exatamente nessa região intocável e propõe ao ambicioso Nesib muito dinheiro em troca da permissão para explorar o local. Mas para Ammar, o tratado não era um mero acordo político e militar. Como fundamentalista islâmico, ele está disposto a iniciar uma guerra para impedir que os infiéis corrompam seu território e os costumes de seu povo. Nesse cenário, podemos avaliar o jogo político de Nesib com os chefes das tribos enquanto aprendemos um pouco sobre a cultura dos povos do deserto, tradições milenares que são até hoje conservadas pelos beduínos.

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Enquanto isso, Auda cresceu como “o garoto dos livros”, seguindo o conselho do pai que mal conhecia, para estudar o Corão, mas sem parar por aí. Nesib lhe deu o melhor cargo que ele poderia imaginar: bibliotecário real. Saleeh, por sua vez, pensava em voltar para seu reino. Por causa de atitudes impensadas (não é realmente um spoiler), acaba sendo assassinado como traidor, o que coloca Auda numa enrascada. Como principal herdeiro, ele é obrigado a casar com a princesa Leyla (Freida Pinto), filha do emir, por quem era apaixonado há muitos anos, e é enviado de volta para seu próprio reino para negociar a paz com seu pai.

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“Tudo que você vê nessa sala foi conquistado com sangue ou amor. Nunca dinheiro. Por que tudo que pode ser comprado não tem grande valor.”

O príncipe Auda tem que tomar decisões: de que lado está a sua lealdade? Para vingar a morte do irmão e permanecer ao lado do pai, honrando seu sangue, ele deve renunciar à sua esposa, a quem tanto ama, e participar de uma guerra sem ter nenhuma experiência militar. Mas ele resolve não abandonar a família nem a mulher. Passa a trilhar seu próprio caminho e nessa jornada descobre-se como um exímio guerreiro, capaz de manobras impensáveis, como as que lia nos livros: “Isso é a guerra, é sobre isso que escrevem os épicos”, diz Auda. Torna-se um grande líder, conseguindo conquistar tudo o que queria, com amor e sangue, como seu pai lhe falou.

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É uma história muito rica sobre a qual é difícil falar sem contar o filme todo, mas também a maior parte dessa riqueza é subentendida. Eu não me importaria de mais uma ou duas horas de filme para explorar algumas questões, mas entendo a necessidade de cortes. Algumas coisas ficaram vagas, como o caso da princesa, que no início parecia uma peça fundamental e acabou ficando ausente. O final não teve o tipo de glória que eu esperava, mas nisso está parte do talento do diretor: ele joga com a expectativa do público, impossibilitando que saibamos se ele quer mostrar dor ou esperança. Essa obra é uma preciosidade em meio aos clichês que encontramos o tempo todo. A forma realista com que foi produzido é impressionante (um filme “artesanal”, se comparado com os filmes quase completamente feito com um computador). O próprio diretor afirmou que queria fazia arte, e não um videogame. A maravilhosa trilha sonora de James Horner acompanhou os momentos de drama e de ação de forma bem coordenada. Tem todo o estilo de um épico, com grandes batalhas, belos cenários e um herói que defende seus valores.  Eu me empolgo muito com algumas coisas mas acho que não é bom assistir esperando muito do filme, mas garanto que mesmo quem não considerá-lo um dos melhores, vai ao menos achar interessante, uma história bem construída e que tem aventura, ação e drama na medida certa.

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Para além do filme, há muito que se pensar. Um garoto que gosta de ler poderia, na vida real, se tornar um grande guerreiro por causa disso? Nós tivemos um caso.

 Muito se fala sobre Sir Winston Churchill, mas exceto em suas biografias, pouco ouvimos falar sobre o que ele fazia nos bastidores e menos ainda sobre como ele se tornou a pessoa que ele foi. De modo geral, quando estudamos sobre as guerras na escola, vemos apenas a ponta do iceberg, tudo é muito superficial, quando na verdade são eventos interessantíssimos. As grandes guerras são vencidas não pela força, mas pela inventividade, e para ser inventivo, é preciso ter imaginação. Esta, por sua vez, é moldada pelo conteúdo consumido, sendo aperfeiçoada através da leitura, que fornece o material para simular os mais diversos cenários e desenvolver as mais variadas possibilidades. É um campo fértil e poderoso. Uma arma.

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 O garoto Winnie (como Churchill era chamado) adorava ler, tendo inicialmente uma preferência por aventuras como as escritas por H. R. Haggard e Robert Louis Stevenson, e mais tarde, interessando-se por História e poesia, sendo grande apreciador de Shakespeare e Virgílio. Todo esse material o inspirou profundamente, deu senso de propósito, o fez ter uma visão abrangente dos mecanismos políticos que regem o mundo e mais do que tudo, o nutriu de conhecimento para gerar criatividade. Tudo isso pode ser visto desde cedo em sua vida, como no episódio da fuga na guerra dos Boêres e no chamado “Circo de Dunquerque” na Primeira Guerra Mundial, além de uma série de outras estratégias militares e políticas no mínimo ousadas.

Ele não é o único exemplo, mas talvez seja o mais extraordinário (e certamente é o meu mais querido). Poderia citar Dom Pedro II, Abraham Lincoln e muitos outros que foram estadistas e militares exemplares, grandes leitores e que professaram sua admiração pela literatura e a importância que isso tinha em suas vidas. Thomas Jefferson, por exemplo, afirmou que Shakespeare e Pope ensinaram a ele “a perfeição da imaginação, mostrando mais conhecimento sobre o coração humano do que ele jamais poderia descobrir”[1]. É isso que a boa literatura faz: revela a alma do homem e do mundo e transforma pessoas comuns em seres extraordinários, capazes de mudar o curso da História.

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Ficha técnica:

O Príncipe do Deserto (Or Noir)

Ano de produção: 2011

Direção: Jean-Jacques Annaud

Duração: 2h10min

Gênero: épico

Classificação indicativa: 14 anos

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[1] https://www.whitehousehistory.org/the-american-presidents-and-shakespeare

Vidro

AVISOS:

  1. Não contém spoilers
  2. Se ainda não viu a resenha de Fragmentado, vai lá dar uma olhada 🙂

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A conclusão da trilogia planejada por M. Night Shyamalan desde os anos 1990 estreou  nos cinemas no dia 17 de janeiro de 2019, com o título de Vidro (Glass), referência ao Sr. Vidro, alter ego de Elijah Price ( Samuel L. Jackson), que é quem irá comandar os acontecimentos. Os dois outros filmes da série podem ser assistidos isoladamente sem prejuízo à compreensão do espectador. No entanto, Vidro só faz sentido em relação aos outros. Corpo Fechado é o fundamento, Fragmentado é a emoção. Vidro é a junção dos dois de maneira espetacular.

Não fiquei muito entusiasmada quando assisti ao primeiro, pois ele tem um tom bem diferente do segundo (que assisti primeiro): enquanto Fragmentado é um empolgante suspense que aborda a anormalidade de Kevin Wendell Crumb (James McAvoy) como um transtorno de personalidade e explora questões como traumas e limites da mente, Corpo Fechado é um filme mais lento e que apresenta as peculiaridades de Elijah Price e David Dunn (Bruce Willis) sob a perspectiva das histórias em quadrinhos de heróis, o que me pareceu bem estranho e sem ligação alguma com o filme que o sucedeu (a não ser pelo easter egg no final de Fragmentado e uma especulação sobre uma criança que apareceu na estação de trem em Corpo Fechado).

Por causa das películas anteriores, já conhecemos um pouco da história de vida e dos interesses dos três protagonistas (David, Elijah e Kevin), então não há necessidade de demora para nos levar ao ponto principal que é o encontro  deles num manicômio, reunidos para uma sessão de terapia conduzida por uma médica (Sarah Paulson) que diz ter um tratamento para o distúrbio deles, entendido pela mesma como sendo um só problema: acreditarem que são heróis/vilões de HQs. Como o trailer nos mostra, os que se entendem como vilões (Sr. Vidro/Elijah e A Fera/Kevin) tentarão contornar essa situação e se mostrar ao mundo, ameaça que David Dunn se sente na obrigação de conter, o que faz Vidro adquirir a mesma vibe de Corpo Fechado sobre a questão dos quadrinhos que faltou em Fragmentado.  Todavia, não se trata de um filme de super heróis no sentido comum: Shyamalan conseguiu explorar os limites da loucura e da realidade e deixar o público em dúvida sobre em que deve acreditar.

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Toda a divulgação  foi cuidadosa em não deixar escapar os detalhes que poderiam estragar as surpresas. O diretor soube bem como garantir a atenção do público em todos os instantes, tanto nos mais calmos, ao deixar a sensação de algo a ser desvendado, quanto nos de ação, ao coordenar ritmo e luz da maneira correta para produzir leve apreensão em quem assiste. A atuação de cada um é maravilhosa, cabendo destacar a de James McAvoy, que sem sombra de dúvida foi a mais difícil e foi desenvolvida por ele de forma impecável. O roteiro é coerente e consegue construir perfeitamente o elo com os filmes que o precedem sem ser repetitivo, ao contrário, sempre traz um novo elemento. O que talvez tenha sido um erro, em minha opinião, foi não terem aproveitado ao máximo o potencial da Casey (Anya Taylor Joy) o que pode também ter sido um acerto para manter o foco e até deixar uma brecha para um trabalho futuro (ou não).

Outros pontos negativos (que posso mencionar apenas de forma superficial para não escapar spoilers) encontram-se nos últimos momentos e não chegam a estragar a trama de forma alguma. Tratam-se de uma história não explicada sobre uma espécie de organização e uma solução que quebrou um pouco o clima  porém foi superada por uma reviravolta, o que foi bom por ser inesperado e ruim por não ser algo tão grandioso como o que parecia ser.  Ainda assim, não causa decepção alguma. A sensação que tive ao sair do cinema foi de tempo e dinheiro bem gastos com um entretenimento de qualidade impressionante e que tem a intenção de empolgar, surpreender e inovar em meio a um mundo cinematográfico onde vemos cada vez mais do mesmo.

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OBS.: a crítica “especializada” não ficou tão empolgada com esse filme quanto eu. Mas quem se importa??? Só estou deixando esse alerta por que realmente esse filme é … peculiar.

PS.: o ator que interpreta Joseph (Spencer Treat Clark), o filho de David Dunn, é o mesmo em Corpo Fechado e Vidro (caso alguém tenha ficado na dúvida, apesar de ser a mesma cara).

 

FICHA TÉCNICA:

Vidro (Glass)

Ano de lançamento: 2019

Direção & Roteiro: M. Night Shyamalan

Duração: aprox. 2h:09min

Classificação indicativa: 14 anos

Gênero: suspense/sci-fi

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Robin Hood – A Origem

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O lendário “príncipe dos ladrões” acabou de ganhar mais uma versão para a telona, em novembro de 2018. Como fanática por literatura inglesa (e por achar arco e flecha armas super legais), eu estava muito ansiosa para ver esse filme, que parecia ser uma extraordinária adaptação das lendas (que talvez tenham um fundo de verdade) do século XII ou XIII sobre o leal servo do  rei e cruzado Ricardo I, o  Coração de Leão ( curiosidade, Lionheart, “coração de leão”, é até hoje uma expressão usada para indicar uma pessoa corajosa, e falando nisso, recomendo esta música de Of Monsters and Men –> King and Lionheart), que volta da Cruzada e transforma-se num justiceiro, juntando-se a um grupo de amigos para aliviar o sofrimento de seu povo subjugado por um governante local que extraía todo o dinheiro e deixava-os na pobreza.

Pelo trailer (que você confere clicando AQUI), percebi uma vibe meio Assassin’s Creed, sobretudo no que diz respeito às sagas de Ezio e de Altair: a de Ezio (no livro Renascença) pela similaridade de alguns pontos da história, como um jovem sendo treinado até descobrir seu potencial máximo e tendo que “viver nas sombras para servir à luz”, e de Altair (A Cruzada Secreta) só por se tratar do mesmo tema, que é a Cruzada. Os efeitos pareciam incríveis ( e realmente são) e o mais interessante, depois que você assiste o filme, é perceber que o trailer  e toda a divulgação em geral foi genial em não entregar dois pontos importantes que certamente surpreenderam  o público (e que obviamente eu não vou contar para não estragar).

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Pois bem, vamos lá: visualmente o filme é confuso. Nas cenas de mais ação, temos informação demais, ficando difícil saber para onde olhar, além de que não foram bem dirigidas e as lutas não foram bem coreografadas. As roupas são uma verdadeira atrocidade. Houve uma tentativa de modernização do que deveria ser um figurino medieval, o que até poderia ter sido ignorado se o resto fosse MUITO bom. As atuações não são nada espetaculares e particularmente não gostei da atriz que interpretou Marian. Mesmo os atores que sabemos que são bons (como Jamie Foxx, F. Murray Abraham e o próprio Taron Egerton, que estava excelente em Kingsman) não tiveram seu melhor desempenho nessa película. Porém não os culpo. Não havia muita oportunidade de desenvolver bem os personagens e criar empatia com o espectador estando eles presos num roteiro ruim que mais parece uma colcha de retalhos.

Um dos produtores de Robin Hood – A origem, foi Leonardo di Caprio, o que talvez explique a tentativa (falha) de politização do filme, inclusive colocando uns protestos desordenados ao estilo ANTIFA e também alguns diálogos que tinham o claro objetivo de pregar o “politicamente correto”, o que não se encaixa nem um pouco com a postura de um guerreiro numa batalha (sabe-se lá como Robin de Locksley sobreviveu por 4 anos numa Cruzada pensando e agindo daquele jeito).

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 Alguns debates políticos e religiosos que ficaram “no ar” poderiam ter sido evitados, pois além de terem sido mal colocados, eram desnecessários se levarmos em consideração que esse deveria ser um blockbuster de puro entretenimento, não um filminho alternativo pseudo-intelectual. Creio que a maior parte do público ignorou esses detalhes ( e fez muito bem).   O curioso é que, assim como na animação Zootopia, parece que quiseram agradar gregos e troianos no que diz respeito às questões mencionadas (não posso dizer bem o que foi para não escapar spoilers, mas quem assistiu Zootopia e assistir essa versão de Robin Hood vai conseguir entender a ligação que faço das reviravoltas e dos planos revelados no final dos dois filmes), o que só misturou tudo e não deu em nada muito claro. Um exemplo foi finalmente esclarecer que Robin não roubava dos ricos para dar aos pobres e sim recuperava o dinheiro que era roubado através de impostos abusivos. Excelente, até aí. Depois ele menciona algo sobre redistribuição de renda e estraga tudo. Deveriam ter deixado essas coisas de lado e ter focado no que sempre foi o principal das lendas do arqueiro de Sherwood: aventura, ação, romance e cavalheirismo. Assim o filme teria um objetivo mais claro e, sendo menos pretensioso, teria conquistado muito mais, ao invés de se tornar um fraco penduricalho de ideias controversas.

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Agora vamos para o lado bom. Sobre as duas surpresas que mencionei no início, vou dar apenas umas pistas: são sobre o mesmo personagem e envolvem um ator relevante que não teve o destaque esperado nesse filme mas que o público deve prestar bastante atenção pois será essencial se tiver continuação ( e provavelmente terá, pois existe o plano de transformar essa película numa franquia, o que, se acontecer, será uma das raras franquias na qual a origem realmente vem antes de tudo; aliás, só lembro de ter acontecido isso com a trilogia Batman de Christopher Nolan).  Além disso, teve as reviravoltas quanto aos planos por trás de tudo o que acontecia e … O VILÃO!   O xerife de Nottingham, eternizado por Alan Rickman em Robin Hood – Príncipe dos Ladrões, de 1991 (You know it’s true, everything I do … do it for you ❤)   é dessa vez interpretado por Ben Medelsohn, que é um ótimo ator e apesar de  enfrentar o mesmo problema que já mencionei sobre os outros atores, ele conseguiu dominar as cenas com uma presença forte. Tenho muitos problemas com esse vilão e ele não é nem um pouco cativante mas não posso negar que ele foi o que deu sustentação ao filme.

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Fui assistir no cinema em 2D mesmo, pois geralmente 3D é um desperdício, apesar que Robin Hood – A origem valeria a pena ser assistido em 3D pois fica claro que muitas cenas foram trabalhadas para essa finalidade. Tenho mais críticas do que elogios, porém os pontos bons foram suficientes para não me fazer descartar esse filme. Faço as ressalvas justamente para recomendar, pois apesar de tudo, ele é uma boa distração para quem gosta de filmes de ação e apresenta um futuro potencialmente bem mais empolgante do que esse começo.

By the way, hoje é o aniversário de 1 ano do blog!

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Ficha Técnica:

Robin Hood – A Origem (Robin Hood)

Ano de produção: 2018

Direção: Otton Bathurst

Duração: 104 min

Gênero: Ação/Aventura

Classificação indicativa: 14 anos

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A bruxa e o demônio

“Sua falta de fé é perturbadora” –  VADER, Darth

AVISO: o texto a seguir pode conter leves spoilers dos filmes A Bruxa (EGGERS, 2015) e Demônio (DOWDLE & DOWDLE, 2010); se você não os assistiu, recomendo que leia a resenha primeiro para evitar surpresas desagradáveis (continuará desagradável porém não será mais surpresa).

Não é tão fácil encontrar um bom filme de terror. A maioria deles tem um roteiro fraco (Ouija: O jogo dos espíritos), atuações péssimas (Ouija: origem do mal), criaturas caricatas (Ouija: onde tudo começou) e cenas clichês (Star Wars: O despertar da força) (ok, pode não ser um filme de terror, mas é um filme terrível). Ainda assim  às vezes os assisto por pura diversão e por uma centelha de esperança de que algum seja realmente bom. Quanto a isso, Demônio (escrito e produzido pelo mesmo roteirista e diretor de Fragmentado) teve um final surpreendentemente agradável, enquanto A Bruxa conseguiu me enganar direitinho.

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“O mal toma muitas formas”

Em seu lançamento, A Bruxa foi aclamado pela crítica especializada. No entanto, não caiu no gosto do grande público, pois difere dos filmes de terror comuns e por isso não entregou aos espectadores aquilo que eles estavam buscando (isto é, o combo de sempre: muito grito, muito sangue, etc).  Todavia, essa é justamente a razão pela qual essa película se sobressai dentre as outras. Cabe notar também que o filme possui muitas qualidades técnicas: o cenário é macabro, o figurino é bem arranjado, a direção é precisa, a trilha sonora é interessante, a fotografia é muito bem feita, as atuações são impressionantes, entre outros detalhes.

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A história se desenvolve no século XVII, durante o início da colonização do que viria a ser os Estados Unidos da América, então chamado de Nova Inglaterra. Uma família é expulsa da comunidade puritana em que vivia, por razões que ficam subentendidas (somos levados a crer que foi por heresia, contudo o assunto não foi bem explorado) e passam a morar num sítio isolado perto de uma sombria floresta. Estranhos acontecimentos começam a perturbá-los depois que Samuel, o bebê, desaparece sob a guarda de Tomasin, a irmã mais velha (interpretada por Anya Taylor-Joy, de Fragmentado). Os eventos sobrenaturais estão supostamente relacionados à existência de uma bruxa  na região.

O ritmo do filme é lento, entretanto isso não o torna  desagradável. Não acho que a película seja eficaz em criar tensão alguma, mas já conversei com pessoas que discordam disso. Não tem momentos de susto nem provoca qualquer apreensão no espectador, apenas o deixa curioso para saber como a situação será resolvida. É um conto de fadas obscuro (inclusive faz referência aos contos infantis tradicionais, o que foi um toque excelente da produção) e que se sustenta bem até determinado ponto.

Vale a pena assistir e os méritos não podem ser negados, no entanto, um usuário comentou no Filmow que “o final quebrou todo o filme” e é exatamente essa minha opinião. Antes de passar para a explicação das razões pelas quais essa película é uma decepção, vou deixar o comentário do meu primo Evódio, entusiasta desse filme, “especialista amador” em cinema e quem eu consultei para saber motivos pelos quais alguém deveria dar crédito a The Witch:

1 – O roteiro é sutil, os diálogos só entregam o que é necessário, não há exposição que prejudique a narrativa visualmente falando.

2 – Mesmo que de acordo com o roteirista e diretor Robert Eggers, foram transcritos de relatos reais registrados na Nova Inglaterra do século 17, os diálogos não fazem uma sobreposição ao cenário e o figurino, não tem falas que tornam-se mais memoráveis que a atmosfera em si. Você lembra do conjunto em si, você vê que se tirassem algo, o filme pareceria desestruturado.

3 – Há o clássico estilo de três atos, mas você não identifica-os com tanta clareza, o ar de pesadelo que vai crescendo dá uma ideia de que sempre há mais um mal a ser mostrado, ou seja, é propositalmente arrastado não peca em coerência, nem torna-se chato.

E justamente pela construção meticulosa o final traz um choque visual que pode ser negativo ou positivo, é demasiado visual para uma trama que até então construía-se através de alegorias.

Se há uma crítica realmente negativa que pode ser feita, é aos minutos finais justamente pelo choque explícito contrastante ao resto do longa. Dá pra traçar incoerência, o fato de não mostrarem corpos dos garotos que acabou incomodando a ti e Lari*, faz sentido dentro das alegorias e metáforas. O final meeeesmo não, o literal e o metafórico sabotam-se.

[SPOILER ALERT] *eu, minha prima Larissa e minha amiga Rafaela comentamos  sobre terem ignorado a morte dos gêmeos, fora nós 3, só encontrei mais uma pessoa na web que parece ter percebido esse detalhe.

Tenho que concordar com as partes que deixei em negrito. De fato é o tipo de filme que te deixa focado na atmosfera que ele cria como um todo e não em falas e cenas  individualmente marcantes como são a maioria dos filmes desse gênero. Porém, como já mencionei, não é um clima sufocante o suficiente para deixar o espectador apreensivo. E sim, é o choque que “quebra” o filme, pois ele estava sendo conduzido de um jeito e muda abruptamente, o que me pareceu meio caricato, o que não me permite desvendar (aliás, não me permite nem mesmo considerar) o lado metafórico.

Creio que foram infelizes em fazer a conexão do final do filme com seu começo, quando a menina está rezando e pede perdão “por ter se divertido no sabbat”. Teria sido muito bom se a)  a garota fosse bruxa desde o começo, tendo sido ela quem entregou o bebê ao coven ou b) se ela tivesse ido à floresta para se vingar da bruxa que destruiu sua família.

Não é nada disso que acontece, o que na minha opinião prova que parte do sucesso do filme apesar desse final muito ruim foi o fato de “causar” contra o cristianismo, já que acaba tratando de uma garota que termina por se livrar da “opressão” da família religiosamente fanática e sua voluntária adesão ao satanismo, tanto que fora a crítica cinematográfica, entre o público comum, esse filme basicamente só foi aprovado por feministas e satanistas, grupos estes que inclusive fizeram excursões para assisti-lo. Ao invés do filme encerrar com chave de ouro e entrar para a história como um dos melhores de seu gênero, fica como uma película curiosa e bem desenvolvida mas que termina de maneira apelativa e incoerente.

Meu problema com esse filme não tem nada a ver com seu conteúdo ou com a forma como ele é abordado. Apesar de tratar de coisas sobrenaturais como bruxas e demônios e discutir sutilmente sobre fé (de uma perspectiva unilateralmente calvinista, diga-se de passagem), entendi o filme como uma fantasia. Sei que não posso assistir filmes desse tipo esperando um viés religioso, muito menos que este corresponda às minhas convicções. No entanto, isso não significa que não posso encontrá-lo. E eu o encontrei no filme Demônio (também chamado de O Elevador).

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Produzido por M. N. Shyamalan (diretor e roteirista de Fragmentado, O Sexto Sentido, entre outros), Devil vai na direção oposta de A Bruxa:  se apresenta como um filme despretensioso, com um roteiro bem simples e que se mantém alinhado do início ao fim. Mesmo classificado como terror  em alguns casos, não se vendeu como tal, e parece bem mais com um suspense policial.

“Quando eu era criança, minha mãe contava histórias sobre como o diabo anda na terra. Algumas vezes, ela dizia, ele tomava a forma humana para punir os condenados antes de reivindicar suas almas. Os escolhidos seriam reunidos e torturados. Ele fingiria ser um deles. Sempre achei que fosse só mais uma história.”

Um grupo de cinco pessoas fica preso num elevador. De repente, as luzes se apagam e quando voltam, uma das pessoas está morta.  O mesmo evento se repete e tudo aponta para uma presença sobrenatural. Um policial sem fé tenta lidar com a situação através das câmeras, mas isso não é nada fácil e põe em jogo suas crenças (falta delas, no caso).

É difícil falar muito sobre esse filme sem entregar todos os seus elementos. Como já mencionei, não é nada extraordinário. No entanto, além de ser um bom passatempo, tem um final curioso e que pode até passar despercebido por outras pessoas, mas que se adequa à Filosofia cristã (o que provavelmente não foi intencional).

É um filme de estilo bem diferente, pois mistura aspectos de vários gêneros, e consegue prender quem o assiste e deixá-lo ansioso para saber o que vai acontecer em seguida e quem ou o quê está ocasionando os assassinatos e por qual razão. Lembra um pouco os contos de Agatha Christie com um toque de Supernatural , uma vez que   inicialmente causa confusão, depois direciona o espectador para determinada personagem apenas para desviar sua atenção, surpreendendo a todos com a verdade no momento em que tudo parece perdido.

“Eles fizeram as escolhas que os trouxeram aqui.”

Pouco a pouco vamos descobrindo sobre o passado de cada um dos que ali se encontram e como suas vidas estão conectadas, o que nos leva a crer que eles foram cuidadosamente escolhidos para estar naquele lugar naquele momento. O filme nos leva a refletir sobre pecado e arrependimento, apresentando-nos o melhor e o pior do ser humano. Para se ter uma ideia, até minha mãe, que odeia filmes de terror, gostou de Devil, por isso posso indica-lo, com certa margem de segurança, para qualquer pessoa,  pois mesmo que não seja do seu tipo favorito, todos nós temos algo a aprender com esse filme que mesmo tão pequeno, acaba por se tornar grandioso.

“Depois que a minha mãe terminava a história, ela nos confortava. ‘Não se preocupem’, ela dizia. ‘Se o demônio é real, então, Deus deve ser real também'”.

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Ficha Técnica 01:

Devil (Demônio)

Ano de produção: 2010

Direção: Drew Dowdle e  John Erik Dowdle

Produção: M. N. Shyamalan

Roteiro: M. N. Shyamalan e Brian Nelson

Duração: 1h 20 min

Gênero: Terror/Suspense

Classificação indicativa: 14 anos

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Ficha Técnica 02:

A Bruxa (The Witch: A New-England Folktale)

Ano de produção: 2015

Direção: Robert Eggers

Duração: 1h 32 min

Gênero: Terror/Suspense

Classificação indicativa: 16 anos

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Shoah – A lista de Schindler

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            Há muito o que falar sobre o que esse filme significa, desde sua idealização até o seu legado.  É um filme que não basta ser assistido, tem que ser estudado. Por enquanto, farei apenas uma introdução, mas ocasionalmente voltarei a escrever sobre ele.

              Como mencionei anteriormente, esse filme despertou em mim o interesse pelo holocausto judeu. Isso aconteceu pelo seguinte motivo: nos livros de História temos as informações mais básicas sobre o evento, mas parece algo muito distante, enquanto pelas  lentes de Steven Spielberg, os acontecimentos parecem tão próximos que podemos até sentir. Além disso, o empenho do diretor para preservar a memória do holocausto com recursos audiovisuais através da fundação “Shoah” é algo realmente interessante, inspirador e importante.

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           Lançado em 1993, o filme conta a história (real, diga-se de passagem) de como o empresário Oskar Schindler, filiado ao Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores da Alemanha (a.k.a “nazista”), arriscou tudo para salvar tantos judeus quanto fosse possível. O mais curioso é que isso começou de uma maneira desinteressada, quase egoísta, mas cresceu tanto que mudou a vida de Schindler e enraizou-se em sua alma, levando-o a comprometer-se profundamente à sua missão ao ponto de (em uma das cenas mais lindas da história do cinema) achar que o que fez foi tão pouco que não teve valor algum. Mas “quem salva uma vida, salva o mundo inteiro” (citada no filme, essa passagem encontra-se no Talmud, o livro sagrado do judaísmo) e luz pode ser encontrada e compartilhada nos momentos mais sombrios. Essa é a grande lição do filme.

(Obs.: Não, eu não estou dando spoiler. Esse é o tipo de filme que você assiste já sabendo o que acontece.)

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        A película conta com atuações incríveis, cabendo destacar os papéis de Ralph Fiennes como Amon Göth, um oficial da SS, e Ben Kingsley, como o contador judeu Itzhak Stern, que se tornou o braço direito de Schindler, mas acima de todos o de Liam Neeson, que interpreta o próprio Oskar Schindler e faz isso com uma intensidade avassaladora. Cada expressão do ator conecta o espectador com os sentimentos da personagem que ele interpreta.

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       Cada detalhe do filme foi cuidadosamente arranjado e mostra o desempenho de Spielberg em sua excelência, talvez por ser algo tão pessoal que o fez se comprometer mais além do esperado por um bom profissional.  A escolha da imagem em preto e branco aliada à sutileza de pequenos detalhes coloridos nos momentos certos  desperta a sensibilidade de quem assiste, o que, acompanhado da espetacular trilha sonora assinada por John Williams, colabora para fazer desse filme uma das mais geniais peças cinematográficas de todos os tempos.

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Quem salva uma vida, salva o mundo inteiro

PS.:  O filme foi vencedor de muitos prêmios, entre eles sete Academy Awards (vulgo “Oscar”):  filme, direção, roteiro adaptado, montagem, fotografia, trilha sonora e direção de arte.

Fragmentado (Split)

Fragmentado-1158x595Na década de 1990, o diretor M. Night Shyamalan se firmou na área de suspense por desenvolver um estilo próprio de direção e roteiro que o fez ser comparado ao mestre desse gênero, Alfred Hitchcock (inclusive por causa de suas “pontas” nos filmes), sendo sua magnum opus O Sexto Sentido (1999). No decorrer nos anos 2000, porém, acabou deixando seu público desapontado ao produzir algumas obras de qualidade no mínimo questionável como  A dama na água (2006), um suspense bem fraco que foi escrito e dirigido por ele, e o decepcionante Depois da Terra (2013), do qual foi responsável apenas pela direção (que não foi tão ruim assim).

No entanto, pouco me importava, por que o que me fez querer ver esse filme foi a presença de um dos meus atores favoritos, James McAvoy, no papel de Kevin, o protagonista. Posso adiantar que a atuação de McAvoy é espetacular (digna de Oscar, inclusive) e que por este filme Shyamalan receberá o perdão por qualquer porcaria que tenha feito.

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Depois de uma festa de aniversário, duas amigas e a garota esquisita da classe são sequestradas por um psicopata com transtorno obsessivo compulsivo (TOC). É assim que começa Fragmentado. Acontece que apenas uma parte de Kevin tem TOC, as outras 22 não. Isso mesmo, ele tem múltiplas personalidades. Inicialmente, o objetivo do sequestro não fica claro, assim o espectador fica tão apreensivo quanto as vítimas. Descobrimos algumas das várias personas de Kevin aos poucos: uma senhora, uma criança, um estilista, o já citado cara com TOC, entre outros.  Nem todas as 23 facetas aparecem na trama, porém a tensão fica por conta da possibilidade de uma ameaçadora vigésima quarta emergir.

Ficamos sabendo um pouco sobre o distúrbio do protagonista, Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI), através de sua psiquiatra, a doutora Fletcher (Betty Buckley), que busca ajudá-lo a identificar e controlar suas personalidades. AVISO: não tome as informações como verdadeiras. Esse tem sido um motivo de polêmica em relação ao filme, acusado de “propagar bobagens pseudocientíficas” por quem não sabe distinguir uma ficção de um documentário. Voltando à história, Fletcher pesquisa o TDI há muito anos e acredita que é algo mais poderoso do que parece. Segundo a mesma, pode evoluir ao ponto de permitir ao paciente transformar o próprio corpo com a força da mente (essa é a tal bobagem pseudocientífica, aliás).

Duas das adolescentes presas encontram-se em estado de desespero e tentam fugir de qualquer maneira. Já a terceira, a estranha Casey (Anya Taylor-Joy), é mais racional: observa o ambiente e usa a inteligência para entender o que está acontecendo e encontrar uma saída, arriscando-se a tirar proveito do próprio inimigo. Seu papel foi muito bem construído e ganha destaque ao longo da trama, quando ficamos cientes de seu passado através de flashes de memória que esclarecem, em parte, seu comportamento e que a envolvem com Kevin em outro nível.

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O filme é fantástico em todos os aspectos (mesmo nos mais ‘mirabolantes’). É criativo e curioso, traz personagens interessantes e um enredo que capta a atenção de quem está assistindo. Os cenários e os geniais movimentos de câmera ajudam a criar certa pressão psicológica no espectador, algo que em alguns momentos é quebrado por um humor que surpreendentemente não estraga o clima. O filme é cheio de contrastes explorados brilhantemente. Já falei das atuações antes, mas vou reforçar: McAvoy interpreta um papel que certamente requer muito esforço. Aliás, papéis! A transição de um para o outro, às vezes súbita, é impressionante e as emoções são claramente perceptíveis em cada gesto e olhar do ator. Taylor-Joy também expressa tudo que sua personagem sente, transmitindo uma calma perturbadora.

Com certeza, Fragmentado já pode ser considerado um dos melhores suspenses do século XXI e é uma ótima indicação não só para quem admira esse gênero, mas para qualquer um que esteja à procura de uma história original, capaz de ser ao mesmo tempo sombria e empolgante.

Post scriptum: antes de ver Fragmentado, é bom assistir Corpo Fechado (2000), um filme do mesmo diretor, que também assina o roteiro, com a atuação de Samuel L. Jackson e Bruce Willis. Se não assistir antes, faça como eu e assista depois, mas não deixe de ver. Sem entrar em detalhes para não escapar spoiler, os dois filmes estão conectados, o que não parece importante agora, mas será no futuro com o lançamento de Glass (previsto para 2019), que trará elementos das duas histórias.

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Ficha Técnica:

Fragmentado (Split)

Ano de produção: 2016

Direção e roteiro: M. Night Shyamalan

Elenco: James McAvoy, Anya Taylor-Joy, Betty Buckley

Duração: 1h 57 min

Gênero: Terror/Suspense

Classificação indicativa: 14 anos

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